TUDO SOBRE O AUTOR

A força da musica

A música é instrumento válido de evangelização
2006-06-05
Ivete Carneiro

Deus gravado na aliança, calça de ganga e camisa fresca, Daniel Lima aparece-nos na sua faceta de músico no bem estar dos 38 anos. A conversa arranca com o novo disco, mas depressa resvala para a vida do padre brasileiro que a Diocese do Porto acolheu há três anos como pároco de Água Longa (Santo Tirso) e Folgosa (Maia) e dispensou no final do contrato. Incomodou? "Talvez..."

Jornal de Notícias|Lançou há dias o seu terceiro trabalho discográfico. E assumiu finalmente o samba que lhe corre nas veias...

Padre Daniel Lima| Considero este como o primeiro trabalho, porque está muito mais trabalhado e nasceu do meu tempo de deserto. É maduro, mais abrangente. Junta tanto música espiritual como coisas mais arrojadas, como samba e forró.

Mas com letras católicas?

Sim. Falava-se muito num Padre Daniel no sentido da animação. Então resolvemos dar também uma pincelada disso.

Não receia que isso alimente o descontentamento da hierarquia da Igreja?

A alegria sempre foi a nossa característica - nós, eu e a minha equipa. Não posso fugir disso. Este disco tem a nossa cara, com temas foram escolhidos por nós.

O deserto de que fala é o do afastamento das paróquias?

Falo do deserto como o tempo que Deus preparou para mim para que este trabalho pudesse nascer. Se não, talvez não tivesse a espiritualidade que tem.

Já tem uma explicação para o seu afastamento, ou não?

Está explicado porque o contrato com a diocese do Porto venceu.

Não era renovável? Numa altura em que a Igreja clama pela falta de párocos...

Era ou não. Não me posso queixar. O contrato foi cumprido. Agora, o nosso trabalho cresceu de tal maneira que Folgosa e Água Longa se tornaram pequenas. Mas o deserto tem sido por demais fecundo...

Mas tem consciência de que pode haver padres que não apreciem o seu trabalho?

Sei que tenho uma legião de padres que me apoiam.

E outros que não.

Muitos gostam do meu trabalho.

Portanto, não foi afastado por andar em espectáculos e na televisão e ter uma forma diferente de dar missa?

Não. Não foi a música que me tirou das paróquias. Foi antes o diferencial que isso fez. Um padre que, na hora da homilia, sai do púlpito e dá o seu e-mail para as pessoas participarem e debaterem com ele é diferente. E a nossa música também é diferente. O samba e o forró levam mais a uma expressão corporal do que um simples fado. Tenho tido muitos convites para o estrangeiro.

Sim. E voltou recentemente ao Brasil. Terá certamente dado por lá conta do seu "deserto"?

Muitos ficaram surpresos. Sabe, no Brasil, quando se é uma coisa, é-se a sério. A Igreja Católica tem perdido muitos fiéis para os evangélicos, mas os que guarda são de muita qualidade. E isso não se pode dizer de Portugal... Na minha paróquia de Santo Amaro, havia umas dez igrejas protestantes. Eu tinha que trabalhar para segurar os meus fiéis. Era como um mercado da fé. E consegui ter mais do que todas elas. Aqui fiz simplesmente o mesmo. Não há a concorrência dos evangélicos, mas as igrejas estão vazias...

Sente ter gerado desconforto nas paróquias vizinhas por lhes "roubar" clientes?

Clientes? (Risos)

Falou em mercado...

(Risos) Que o nosso trabalho muitas vezes não tem agradado, isso é notório, agora que alguém se tenha incomodado... não sei, talvez.

Ainda espera que lhe dêem uma paróquia? E aceitaria?

Aceitaria duas, ou três, ou quatro!

Mas estou bem, a música é para mim um instrumento válido de evangelização. Eu consigo através de uma canção chegar a tantos corações como nenhum padre consegue de um púlpito! E, sabe, os idosos adoraram! Um dia, no Porto, uma senhora que me conhecia da TV disse-me 'Ah padre, por favor, não nos deixe, nós precisamos muito do senhor'. Isso é evangelização...

Mas a música não lhe resolve o problema do visto de permanência em Portugal...

Resolve. Até há pouco tinha contrato com uma produtora. Até o visto caducar, pensar-se-á.

Não tem saudades do púlpito?

Tenho. Mas a internet encurta as distâncias. Todo o dia estou lá.

E das pessoas?

Claro. O meu ministério não seria o mesmo sem esse feedback. Acho que não nasci para ser monge.

Voltar para o Brasil?

Mesmo que volte, venho cá sempre, porque o meu trabalho de música é só aqui. Mas o meu bispo diz que posso voltar quando quiser.

Sente a Igreja brasileira mais aberta do que a portuguesa?

Muito mais... Mas vou ficar cá. É aquela coisa de saber que aqui tem alguém que necessita. Seria perder a dignidade abandonar o barco em alto mar.

fonte: jornal de noticias




A força do amor

A força de um padre amado
2006-01-29

Quentes, as almas impediam o sangue de gelar. Na noite arrepiante de Água Longa, Santo Tirso, centenas de pessoas transbordavam da igreja paroquial. Já assim fora em Folgosa (Maia), na véspera. Numa missa anunciada como a última do padre Daniel, um brasileiro que canta, pula, grita e reavivou a fé daquela gente ao longo de três anos, as despedidas estavam interditas pelo próprio pároco. Mas a incredulidade, mais do que a revolta, fez com que quase todos rumassem ao Porto para rezar, à maneira deles, à porta do paço episcopal. Querem que fique. Sentem-se órfãos.

Tecnicamente, se assim se pode falar das coisas eclesiásticas, a questão é simples. Daniel Lima, presbítero brasileiro que quis viver a experiência de paroquiar em Portugal, fez um contrato de três anos com a diocese portucalense, que termina dentro de dias. Porém, a voz do povo, aqui e ali, deixa escapar outras possíveis explicações, como a eventual pressão de padres (é certo que havia paroquianos de outras freguesias a fazerem quilómetros para assistir às missas do padre Daniel). Também parece plausível que no paço, que não comenta oficialmente questões do género, haja algum incómodo com párocos que gravem discos, dêem espectáculos e cantem na televisão.

Tudo isso, claro, é especulativo. À noite, as cerca de três centenas de paroquianos das duas freguesias que, no Porto, cantavam junto aos símbolos arquitectónicos do poder eclesiástico na cidade - a Sé, a Casa do Cabido e o Paço - saíram em silêncio, depois de alguns representantes terem conversado com um sacerdote (não sabemos quem), entregando-lhe uma petição, com mais de 700 assinaturas, a pedir ao bispo a manutenção do padre amado. Ter-lhes-á sido explicado que há um equívoco, a resolver, pelo próprio Daniel Lima, com a diocese brasileira a que está vinculado, de modo a que a eventual permanência em terras lusas possa ser acordada entre prelados. Certo é que o fogo abrandou. A conversa convenceu-os de que só se prejudicariam enquanto dessem nas vistas, e até desmobilizaram uma acção pacífica prevista para ontem de manhã, num acto público em que estaria D. Armindo Lopes Coelho.

O padre Daniel, que abandonou há dias a residência paroquial, não faz declarações à Imprensa, mas quase tudo ficou dito na homilia e no final da missa. Disse ter "lançado a semente" da fé para que ela germinasse, sem se preocupar com o fruto, que será colhido pela Igreja. Garantiu que não se vivia ali uma despedida, apontou o sítio dele na Internet como ponto de encontro, anunciou o lançamento de um novo disco para a Páscoa. Recebeu salvas de palmas, aplaudiu, também, um texto lido em nome da comunidade, lançou beijos aos fiéis.

Havia gente que chorava, à saída. De todas as idades. Cada pessoa com que falávamos era a voz da incredulidade, uns mais revoltados, outros encarando a situação como normal, mas sempre demonstrando uma indelével ligação ao padre Daniel. Apenas ficou claro que ali, entre aquela gente, a fé transformou-se em algo realmente vivo. Puro entusiasmo. E isso deve-se àquele homem diferente. Que pula, canta e bate palmas.

Gente de Água Longa e Folgosa tenta sensibilizar bispo em nome de uma fé festiva.

fonte: fornal de notícias, 2006


2 comentários:

  1. A fé em Deus é luz no nosso caminho.
    Nada te turve, nada te espante, quem a Deus tem nada lhe falta.
    Força e coragem para cumprir a Missão a que foi chamado apesar dos contratempos.
    Ele sempre tem uma saída triunfante para os preserverantes.
    Tenhamos confiança nas nossas orações e nada de desanimar.
    Daqui onde me encontro doente não esqueço todos estes amigos que oram por mim e rezo também por todos vós.
    Obrigado Padre Daniel
    A amiga Ritinha

    ResponderEliminar
  2. D. Ritinha, fique boa rapidinho, sentimos sua falta!
    Beijinho grande

    ResponderEliminar

Olá,
sua mensagem será submetida a previa analise e logo depois será publicada.

Obrigado